Religiosos celebram a Parada do Orgulho Gay

Neste sábado, oitenta barcos devem cruzar os canais de Amsterdã para festejar a liberdade de expressão homossexual que existe no país. Um deles é o da comunidade judaica Beit Ha’ Chidush. A decoração do barco, bem como o figurino dos convidados já está definido:

“Na parte de trás do barco vai estar uma estrela de Davi de três metros de altura feita de balões cor-de-rosa. Nas laterais, vamos pendurar faixas com a palavra shalom, que significa olá, em hebreu, mas também paz ou unidade. E os tripulantes do vão usar um quipá cor-de-rosa”, conta Jelle Zijlstra.

A comunidade da qual ele faz parte também celebrará um shabat ao orgulho gay. "Já faz alguns anos que temos um shabat na sexta-feira que antecede a parada de barcos. Queremos dar visibilidade a participação judaica, mostrar que também estamos presentes na festa. Isso porque acreditamos que não há razão para a homossexualidade e a vivência em uma comunidade religiosa caminharem separadas."

Essa comunidade judaica de Amsterdã é a única na Holanda na qual os homossexuais podem participar ativamente da vida comunitária. Para se ter uma idéia, o shabat cor-de-rosa será conduzido por uma rabina lésbica. Embora a Beit Ha’Chidush seja a mais progressiva na Holanda, há comunidades judaicas liberais que já discutem o casamento homossexual e outras ortodoxas que aceitam a presença de homossexuais entre eles.

Novidades
Ainda que caminhem à frente das comunidades judaicas, é a primeira vez que a Beit Ha’Chidush desfila na parada de barcos. Outra novidade na programação da parada é o Centro para Meditação. Na Mozeshuis, uma igreja no centro de Amsterdã, dois espaços foram preparados para receber os homossexuais que procuram o silêncio, a meditação ou a si mesmos, sejam eles religiosos ou não.

Uma das salas foi destinada à reflexão. Na outra, especialistas estarão disponíveis para bate-papos individuais sobre religião e homossexualismo.

De acordo com Gea Zijlstra, uma das assessoras do Centro de Meditação, muitos dos visitantes da Parada do Orgulho Gay que foram educados na fé cristã "ouviram alguma vez, de alguém que ocupa uma posição de destaque na hierarquia da igreja, que não é possível combinar a prática da fé com a homossexualidade". Um dos objetivos desse espaço durante a parada é acabar com as dúvidas individuais que acompanham esses homossexuais.

Religião e homossexualidade
Religião é também um tema delicado dentro do movimento homossexual, como explica Ruard Ganzevoort: "Historicamente, a igreja reage de maneira negativa aos homossexuais. Há ainda quem os exclua da igreja. Por outro lado, algumas pessoas que fazem parte do movimento gay também torcem o nariz para a igreja exatamente por causa desse histórico. No entanto, há também pessoas que professam sua fé e que fazem parte do movimento homossexual e que são importantes para fazer a ponte entre os dois grupos e diminuir a controvérsia."

Ganzevoort é uma dessas pessoas que fazem a ponte. Ele é catedrático em teologia da Universidade Livre de Amsterdã e fará um discurso durante o culto que será celebrado no domingo na Keizersgrachtkerk, uma das poucas igrejas protestantes que abençoa a união religiosa de homossexuais na Holanda.

Resta saber se o público que vem para uma festa tão exuberante, como a parada de barcos pelos canais da cidade, também se interessa por participar de uma celebração religiosa. Ruard Ganzevoort acredita que sim: "Nem todo mundo que vem para a parada de barcos no sábado também irá no domingo à igreja. Mas há quem diga que a parada de barcos é muito exuberante e que prefira celebrar com outras pessoas em um ambiente mais tranqüilo. E essa celebração na igreja é uma das formas. O importante é que na Parada do Orgulho Gay existem diversas formas de se manifestar."

As comunidades que organizam estas atividades fazem parte de uma vanguarda na Holanda. Ainda serão necessárias muitas paradas gays para que a liberdade de expressão religiosa seja garantida a todos os fiéis, indiferente de sua orientação sexual.

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